segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Ensaio: sobre a ausência de cenografia.





Recentemente tem vindo a Belém vários espetáculos de outros Estados e regiões do Brasil e, mesmo do exterior. Seja através de projetos como Palco Giratório, circuitos culturais de Grandes Grupos Bancários, temos tido a oportunidade de ter contato com a produção teatral de outros grupos.
Se compararmos a vida cultural de Belém de uns dez anos atrás vamos perceber que atualmente vivemos uma efervecência cultural. Podemos confirmar isso tanto pelo número de produções locais como pelo número de espetáculos de fora do Estado que procuram os palcos de nossa cidade. Mas um detalhe não passa despercebido no que tange a cenografia, seja nos espetáculos da cidade, seja nos de fora: a ausencia de cenografia.
É bem verdade que a maior parte das companhias, sejam elas particulares ou ligadas a alguma instituição, dependem e sobrevivem dos parcos recursos fornecidos pelo Estado. Dificílimo encontrar nesses tempos uma companhia ou grupo teatral que nasceu,cresceu e se mantêm com seus próprios recursos, bancando suas despesas e pagandos seus profissionais, a grande maioria depende de forma parasitária da verba dos projetos e patrocínios sejam eles estatais ou de grandes grupos que abatem seus impostos pagos ao cofre do Estado. Foi-se o tempo em que grande companhias européias viajavam o mundo inteiro e chegavam aos confins do então intocável mundo amzônico. Começo do século XIX, Bella Époque, o ciclo da borracha enriquecia as terras amazônica com seu ouro branco, vultosos elencos de atores, músicos e artistas de todas as espécies conseguiam chegar até Manaus e Belém do Grão Pará com seus riquíssimos e detalhados cenários, imaginem como deveria ser quase uma saga mitológica chegar até esses lugares naquele tempo, com a tecnologia da época. É necessário ressaltar que estamos falando de cenários gigantescos e detalhados que seguiam o estilo predominante por aqueles tempos idos. Fica bem claro que só existe uma explicação aceitável para tal fenômeno cenográfico ter ocorrido: a grande soma de recursos dispensados pelos senhores de seringais e empresários da época e mais acertadamente pelo alto grau de qualidade das companhias que tinham estruturas bem diferentes das de hoje.De qualquer forma as companhias viajam com todo seu elenco e com sua gigantesca estrutura cenográfica, até porque por aqui tal aparato cênico não existia mesmo!
Diferente da nossa realidade, as companhias da época do ciclo da borracha , não dispunham de grandes navios, de grandes aviões e possantes veículos rodoviários. Porém hoje vemos um movimento paradoxal aquele, as companhias e grupos que trabalham com os elementos cênicos descartam, "limam", a cenografia de seus orçamentos, pois precisam adequar seus custos aos recursos dispensados pelo Estado e, que por isso não devem e não podem superfaturar seus projetos. Fica muito evidente essa tendência, seja nos grupos que chegam a nossa cidade como nos grupos daqui que concorrem aos famosos editais de incentivo a cultura, o descarte parcial e total do cenário de suas produções.
Assim, como a ausência de cenário é na maioria das vezes o primeiro elemento a ser descartado das produções por causa do tamanho, do peso e volume a serem transportados e dos custos excessivos com transporte, pois é imperativo que se adequem a verba estatal, fica uma pergunta muito mais preocupante que a ausência desse elemento tão essencial ao espetáculo teatral, o que será feita da liberdade, da autenticidade e do papel crítico e transformador do teatro pra sociedade se ele é custeado e dependente de forma vital de grupos e da máquina estatal? Fica a pergunta como cuspir no prato que se come?

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

ÓCIOS DO OFÍCIO


Está em exposição na galeria GRAÇA LANDEIRA, na UNAMA Alcindo Cacela, os trabalhos dos artistas plásticos NEWTON CHAGAS e FLÁVIO ARAÚJO. A exposição tem o criativo nome de "ÓCIOS DO OFÍCIO" e ficará no período de 20 de setembro a 19 de outubro de 2007, a entranda é franca e o Horário vai de 8h às 20 h.
O que chama mais atenção,nessa que é mais uma exposição sem repercussão e conhecimento do público, da galeria da UMANA, é a maneira, o olhar e o tratamento dos artistas sobre os materiais e ferramentas que os dois escolheram como elemento plástico: são restos de obras, saco de cimento, pedra, madeira branca, compensados, etc... Tudo aquilo que vemos no canteiros de obras de construção civil todos os dias e não damos a mínima, porque não passa de um bando de entulho, sem serventia nenhuma. Pois então, eles transformaram tudo: fotografias de excelente estudo semiótico, pequenas e expressivas instalações, além de boas e inéditas técnicas de desenho e pintura com os referidos materiais.
Se a exposição for percorrida no sentido UNAMA--->Alcindo Cacela percebemos o processo que foi empregado pelos artistas. Eles apresentam várias fotografias, ensaios e olhares sobre o material explorado. Isso lhes permitiu logo em seguida uma explosão de experimentações empregadas em belos trabalhos de pintura, desenhos e texturas somente utilizando aqueles materias dos entulhos, das obras de construção civil. E ai vemos uma dança esteticamente bela de cimento, argamassa, arame retorcido, pedaços de tijolos, pedaços de pau, sacos de cimento, massa acrílica, e pigmentos( acho que é tinta xadrez!).
O que realmente impressiona é essa metamorfose, essa manipulação, o processo de pesquisa e a perfeição de algumas peças feitas em compensado, são desenhos de excelente efeito tridimensional. Nesse aspecto e, aqui é bom reforçar minha teoria, de que existe um poder, uma energia inimaginágel em todos os materiais. Essas faculdades quando são percebidas pelo seu manipulador, lhes permitem infinitas possibilidades de serem metamorfoseados e recriados em objetos que vão além daquele do emprego no ofício, podem ser sublimados, tornando-se, por exemplo, objetos, adereços, construções cênicas, ou como no caso transformando-se em belas obras de arte.
Portanto, somente com a pesquisa, o uso, a prática, experimentação e estudo mais aprofundado dos diversos tipos de materiais, nos é possível chegar a seguinte conclusão: " quanto mais conhecemos a natureza, vantagens e desvantagens, qualidades e possibilidades dos materiais, mais podemos retirar deles, o que lhes é de mais abstrato e transcendental, a alma". E,é justamente ai que reside o belo, a obra de arte.

Parabéns pelo deslumbre e vislumbre, além da lição de arte e possibilidades que me foram sugeridas. Fica aqui minha indicação e convite a todos os interessados. visitem, observem e comentem suas opiniões.




Carlos Henrique - Cenógrafo

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Croquis




Fiz um estudo e confeccionei vários esboços de croquis para uma loja de tecidos finos. O resultado foram alguns experimentos um pouco primários. Ficaram bons,eu achei, consegui propor alguns modelos e adquirir um estilo próprio. Porém confesso que me faltam habilidade e agilidade para desenvolver esse função dentro de uma loja, já que se exige uma certa rapidez do profissional que cria esses tipos de modelos. A demora em concluí-lo é meu principal obstáculo. Sei que consiguiria se treinasse com mais empenho. o resultado pode ser visto através de alguns modelos publicados nessa postagem. Leiam e critiquem. Obrigado pela atenção!



Carlos Henrique - Cenógrafo

domingo, 23 de setembro de 2007

Proposta de figurino




Igaramão, personagem do espetáculo "A fábula das águas tristes", de Carlos Correia Santos, encenada pelo Grupo de Teatro Palha, que estreou dia 11 de junho de 2007, na ELETRONORTE, em Tucuruí, estado do Pará. Personagem que exigiu bastante estudo e vários esboços antes de chegarmos ao resultado final. Era de difícil concepção, pois mesclava características de uma backing vocal com Mortícia Adamns, além de ter que representar todos os igarapés, furos e paranás do mundo encantado no qual acontecia a fábula. De início a minha proposta era que fosse uma personagem masculina, no entanto era uma escolha muito óbvia.Então resolvemos dá-lhe feições bem andrógenas, que com certeza estimularia a imaginação do público e daria à personagem mais possibilidades lúdicas. Depois de vários estudos, traços, esboços e muito trabalho nasceu Igaramão, nome masculino, mas formas e gestos femininos. A cabeça com vários filetes espalhados davam volume e significavam os infinitos igarapés que a compunham, estes filetes também estavam presentes na roupa.Investiu-se no volume geral do figurino e conseguimos uma boa visibilidade para a personagem, com isso ela ganhou presença de palco impacável. A escolha das cores foi um capítulo à parte, já que elas contribuiriam de forma decisiva no visual cromático não só da personagem, mas no conjunto de toda a composição estética do espetáculo. Enfim, depois de muito trabalho, mas graças ao trabalho de todos os envolvidos, a personagem conseguiu cantar, dançar , envolver a platéia e interpretar com seguranção dos movimentos e gestos e, isso é bastante importante para o ator e foi um grande sucesso. Todos estão de parabéns e aproveito para agradecer pelo excelente trabalho!


Carlos Henrique - Cenógrafo

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O que é cenografia?




Todas às vezes que vamos ao cinema , `a opera, ao balé e ao teatro ou assistimos qualquer programa de televisão, incluíndo aí as novela, filmes publicitários, musicais, videoclipes e shows. Em todos os exemplos mencionados encontramos um elemento que está sempre presente e que os compõe de uma forma visual agradável de acordo com o espetáculo apresentado: a cenografia.

Então, um espetáculo é composto por vários elementos organizados e orquestrados de tal forma que o espectador possa assisti-lo no seu conjunto e consiga ser surpreendido pela mágica que se faz durante a apresentação. Podemos dizer que todo e qualquer tipo de espetáculo é o resultado de um trabalho coletivo.

Por exemplo, no espetáculo teatral, em geral a equipe é composta por vários profissionais especializados. O encenador ou diretor concebe o espetáculo como um todo( a partir do texto dramático a ser encenado ou de outra proposta sem uso do texto), dirige o trabalho dos atores e coordena todo o grupo. Os atores criam as personagem, ensaiam e atuam. O cenógrafo estuda o texto, ou pesquisa a proposta visual do espetáculo e cria a cenografia, acompanha a execução dos cenários pelos cenotécnicos, pintores ou outros profissionais ( como por exemplo os aderecistas, os que fazem os efeitos especiais, os carpinteiros, os ferreiros, etc.). O figurinista cria os figurinos e acompanha a sua execução pelas costureiras. O iluminador concebe, esquematiza e organiza, além de operar a luz do espetáculo. O programador visual cria o catálogo e o cartaz da peça. O sonoplasta pesquisa e experimenta o som. O coreógrafo - ou outro profissional especializado em expressão corporal - cria e coordena o movimento dos atores em cena. O visagista apresenta a maquiagem. Além de todos esses profissionais existe, ainda, uma equipe administrativa e de produção, responsável pela divulgação, pela compra de materiais, ferramentas, alimentos e objetos necessários, contratos e pagamentos, enfim, todas as questões ligadas a parte burocrática e financeira.

Ocorre com muita freqüência que diretores acumulem a função de cenógrafos ou de iluminador; ou cenógrafos que também fazem figurinos. Há muitos profissionais que atuam em várias áreas ao mesmo tempo. De qualquer forma, o espetáculo é sempre obra do trabalho conjunto de muitas pessoas que unem seus esforços e suas habilidades para montá-lo.

A formação de uma equipe de trabalho sempre depende da proposta e objetivos do espetáculo e muitas das vezes até de fatores como a quantidade da verba que a produção consegue captar. Por isso não há regras nem uma cartilha pronta de como tudo vai dá sempre certo: cada espetáculo é único na sua concepção e no seu resultado, ainda que seja o mesmo texto, cada vez que for encenado por um grupo diferente , com certeza esse espetáculo irremediavelmente será diferente. Além disso, no caso do teatro, mesmo depois de pronto o trabalho, cada apresentação é sempre " diferente" das anteriores, por que a relação que existe entre cena e público muda de acordo com este e com a disposição dos atores, que , não sendo objetos sem emoções, apresentam maneiras inesperadas e surpreendentes de se expressar em cada apresentação.

A cenografia, o figurino, a luz, a maquiagem, os adereços e, de certa forma, o ator são elementos visuais do espetáculo. A cenografia pode ser considerada uma composição sólida esteticamente agradável e funcional que preenche um espaço tridimensional - o lugar teatral. Utiliza-se de elementos básicos como cores, luzes , formas, volumes e linhas. Sendo uma composição apresenta peso, tensões, equilíbrio ou desequilíbrio, movimentos e contrastes.

Nunca se deve confundir cenografia com decoração, desing de ambientes. Cenografia é um elemento exclusivo e que só existe em função do espetáculo( teatral, cinematográfico,etc.), para que o ator, modelo, cantor e demais profissionais que dele se utilissem lhe dêem funcionalidade. Decoração é sinônimo de arquitetura, desing de interores, de ambientação de espaços funcionais para as atividades do dia-a dia.

Cada um dos espetáculos mencionados - cinema, ópera, balé, etc. - é diferente, tem proposta e objetivos diferentes, possui uma linguagem específica. Assim, como elemento desses espetáculos, a cenografia também tem propostas e objetivos adequados a cada espetáculo.

Como foi visto, há muito o que se falar a respeito de cenografia. Há muito o que se estudar , se discutir, debater e pesquisar sobre cenografia. Ela envolve processo subjetivos que ao mesmo tempo expressam desejos e aspirações de uma coletividade, já que envolve muitos profisssionais na sua realização. Este espaço tem essa função, permite que se fale à vontade de cenografia, principalmente do fazer cenográfico realizado em Belém do Pará. Vamos todos! Os que se interessam pelo assunto! Exponham sua sugestões, idéias e críticas e também os elogios. SEJAM BEM VINDOS...